Opinião de Domingo: Os bons ladrões voltaram!

25 julho, 2021

“Porque eu e meus companheiros sofremos de uma doença do coração que só pode ser curada com ouro” (Hernan Cortês, conquistador do México). Amigos, o Brasil é uma República diferente das outras Repúblicas.

Aqui todos os poderes e privilégios que haviam na Monarquia e foram abolidos em outros países, neste torrão foram mantidos. No Brasil, qualquer cidadão comum que ascende a um alto cargo público é imediatamente tratado como Vossa Excelência.

Isto é, da noite para o dia os advogados de porta de cadeia, o médico que nunca cuidou de pacientes, o agiota, o humorista, o invasor de terras, o homem da banca do jogo do bicho, o cantor de rap são imediatamente elevados a outra categoria: tornam-se Excelências!

Eleitos para representar aqueles cujas as vozes não são ouvidas: o cidadão que paga impostos, os que vão para o trabalho de trem ou de ônibus, os que moram em pífias habitações de um cômodo, esses eleitos esquecem suas origens e se tornam, imediatamente, cidadãos diferentes.

Como num passe de mágica adquirem nobreza, inteligência e consciência moral. De repente, não são mais comuns, são Excelências! O plebeu eleito agora é um homem da corte do Brasil.

Um título de nobreza instantaneamente lhe é conferido e o eleito, que antes era apena um cidadão qualquer, a ele é conferido o direito às regalias, rapapés, pagos com o dinheiro dos impostos do povão que os elegeu para representá-los.

A eles são outorgados veículos de último tipo, motoristas, secretárias particulares, viagens de jatinho, hospedagem em hotéis caríssimos ou verbas caudalosas. Uma vida de luxos e privilégios.

Esses direitos que os parlamentares adquirem depois de eleitos, são frutos da Constituição escrita em 1988. É lá que está a chave do problema.

Os Constituintes, em nome da democracia que proclama igualdade entre todos, escreveram uma Constituição, a qual chamaram de cidadã, onde anotaram que as autoridades brasileiras estarão providas de direitos diferentes dos direitos do cidadão comum e serão mantidos pelo Estado com regalias de nobres. Praticaram contra a nação, com esse ato, um crime hediondo!

Com esses direitos e privilégios as autoridades brasileiras se tornaram o próprio Estado, legislando com poder absoluto sobre a vida e a morte dos cidadãos que os elegeram.  Esses “direitos de nobres” foram mascarados dentro da Constituição que permitem a interpretação que a “autoridade”, dependendo de seu humor, quiser dar.

Padre Antônio Vieira, no “O Sermão do Bom Ladrão”, que foi escrito em 1655, e proferido em Lisboa perante D. João IV e sua corte, presentes também os maiores dignitários do reino, juízes, ministros e conselheiros, disse ele:

“Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia, foi trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim:

Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres”.

Cheios de direitos e poderes, nossas Digníssimas Excelências, os Alexandres brasileiros do Congresso, constituído por 513 Deputados e 81 Senadores, votaram e aprovaram o projeto onde triplicaram o fundo eleitoral, passando de (1,8 bilhão) para (R$ 5,7 bilhões).

Esse dinheiro, destinado a reeleição das Excelências, foi acordado por todos os partidos, na Câmara e no Senado.

Descoberta a trama, Deputados e Senadores fazem “cara de paisagem”, de inocentes, de desentendidos.

Alguns, indignados ensaiam uma reação, mas rejeitaram votar um destaque à LDO que excluía o aumento do valor do fundo. Outros, recorrem à Justiça para anular a sessão que aprovou a LDO, mas permaneceram calados, nada denunciaram, a não ser quando expostos.

Os 513 Deputados foram eleitos para falar e proteger os que não tem voz. Os 81 Senadores foram eleitos para representar e defender o cidadão comum.

Os dois grupos se tornaram Excelências, se tornaram nobres e como Hernan Cortês, Senadores e Deputados “sofrem de uma doença do coração que só pode ser curada com ouro”.

De um nobre chamado Seronato disse Sidônio Apolinar: Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos, e em os fazer. Isto não é zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo, para roubar ele só”.

O Brasil está infestado de “homens nobres como Seronato”, está abarrotado de “Autoridades” iguais a Alexandre. Está cheio de “Excelências” idênticas a Hernan Cortês. De onde saíram estes homens que se apresentam como “Excelências” e de forma tão vil achincalham a nação?

Nós, cidadãos brasileiros, ainda não podemos alterar as leis escritas na Constituição de 1988 por uma Assembleia, mas podemos renovar através do voto os deputados federais e podemos demitir 1/3 do Senado ou 27 Senadores!

Podemos votar em outras pessoas. Podemos e devemos renovar o Congresso. Podemos e devemos! Basta um simples gesto nas urnas e tornaremos o Brasil um país melhor.

Fonte: JornalCidade

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